quarta-feira, 15 de abril de 2009

Coração de Detetive - Final

Física, Direito e Psicologia

Três ciências que ele diz utilizar bastante em seu trabalho são a Física, o Direito e a Psicologia. “Com a física eu aprendi a medir as distâncias de focalização do objeto, pra saber onde eu seria visto ou não. Da psicologia eu aprendi pouco, mas o pouco eu uso, sei que demonstrar confiança é um fator fundamental para conquistar clientes, assim como ser atencioso e simpático. Outra coisa importante é nunca demonstrar emoções ruins na frente do cliente, muitas vezes tinha que dar notícias de traição conjugal, ver a pessoa se acabar de chorar e não me abalar com isso, tinha que agir naturalmente, ou então ela sairia dali e se mataria. Já o Direito, que eu cursei até o quarto ano, foi essencial para me manter fora da cadeia. Conhecer onde começa e onde termina o direito do outro garante uma maior qualidade do meu trabalho”.

Ir, vir e permanecer em vias públicas. Esses são os direitos básicos de qualquer cidadão e é justamente disso que ele se utiliza para captar flagras, conhecer a rotina de seus suspeitos e descobrir quais os mistérios que qualquer pessoa possa esconder. “Os únicos cuidados que eu tenho que tomar enquanto estou seguindo alguém são que essa pessoa não me veja, para que não se sinta constrangida com a minha presença, pois isso incorreria em um crime. E eu também não posso montar campana no meio da rua, por correr o risco de ser autuado por perturbação pública”, explica.

Seguir, investigar, espiar e delatar podem parecer ações pouco corretas (e o número de processos que ele já recebeu parece afirmar isso), mas Ricardo tem boas justificativas para o que faz, “Sou chamado para investigar um empregado de uma empresa que está afastado por incapacidade para o trabalho, e que continua recebendo, e descubro que ele está bem, trabalhando em uma obra, carregando peças pesadas e tal, isso é a prova de que ele está causando mal aquela empresa, que é o maior bem que um país tem, gera renda, movimenta o capital. Prejudicar essa empresa é prejudicar o país”.

Mas Ricardo não é necessariamente um defensor dos direitos do Estado, mesmo negando, é visível que seu coração sempre o guiou e ainda o guia. Em casos conjugais a regra segue a mesma, “não julgo quem está certo ou errado, mas minha função é descobrir o que está acontecendo. Um caso que não esqueço é de uma mulher que queria saber com quem o marido a estava traindo, eu descobri que era com a filha deles, foi uma coisa muito forte, vi os dois na praia juntos, se beijando. Difícil não se envolver psicologicamente e não julgar”.

Já no fim da conversa Ricardo apoia os cotovelos na mesa, mantém o olhar fixo e sentencia, “todas as pessoas tem o direito de saber a verdade, não me importo o que pensam sobre a minha profissão, o importante é o alívio que a verdade traz, nada paga isso”. Aliás, a filha de sua primeira cliente, não estava envolvida com nada ilegal, para alívio dos dois, detetive e mãe, ela estava apenas sussurrando juras de amor.

Antes de ir embora pedimos água e licença para ir ao banheiro. Ele traz o copo e indica a porta, mas no banheiro não há luz, “queimou a lâmpada hoje”, ele afirma. Impregnados pelo ar de desconfiança acreditamos que o banheiro não tem luz a algum tempo e o copo é devolvido quase cheio. “Será que ele não mentiu nessa história toda?”. Talvez, mas em todo caso, está gravada.

3 comentários:

  1. Legal. Mas vale a pena repensar esse formato: uma entrevista em três partes, em dias diferentes. Acho que isso não combina muito com Internet

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  2. Concordo com o Maurício. A maior característica da internet é o ineditismo. Um texto dividido em três partes postadas em diferentes semanas não atrai o leitor que talvez nem se lembre da parte 1 quando estiver lendo, duas semanas depois, a parte 3.
    Mas acho o texto muito bem escrito. O melhor até agora.
    Parabéns.

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  3. Certo. Muito obrigado pelos comentários, vamos rever esse modelo.

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