segunda-feira, 13 de abril de 2009

Coração de Detetive - Parte II

Confie desconfiando

“Tesão!”. Essa é a definição que ele usa para justificar sua longa trajetória como detetive particular. Ricardo trabalhava como projetista quando recebeu o convite de um amigo para fazer um curso gratuito de Detetive. Achou a proposta interessante, mas resolveu não fazer o curso naquele momento, não se lembra por quê. Tempos depois, viu um anúncio no jornal da mesma escola de detetives que o amigo tinha lhe indicado, cujo dono era “um tal” Carlos Lacerda. “Na hora eu pensei: Nossa, esse é o nome do meu pai, mas seria muita coincidência se fosse ele”.

Era. Ele pede licença para acender um cigarro e avisa que não é um assunto que gosta muito de tratar, desvia o olhar pela primeira vez, em rápidos instantes, depois prossegue dizendo que perdeu o contato com o pai quando tinha apenas quatro anos. Então, nunca mais se falaram ou se viram. “Eu sabia o nome dele, e só. Depois, descobri que tinha primos e tios detetives, e que vinha de uma família de detetives”, revela, já apontando outro caminho na conversa. “Mas cada um tem uma vertente de trabalho e seu estilo próprio”.

Talvez, por experiência dele ou inexperiência nossa, Ricardo parece dominar a entrevista, e guia o destino da conversa com facilidade. Entra e sai dos assuntos como e quando se sente a vontade, e demonstra ser assim também em seu ofício. “Você tem que saber com quem está lidando, não dá pra confiar em Jornalista. Vocês mesmos, não sei exatamente o que vocês vão publicar, como isso vai ficar no final, mas também não estou preocupado, estou me divertindo”.

Desconfiança é um elemento presente na vida de Ricardo, “exceto em relação à vida pessoal”, garante. Com o tempo ele tornou seu olhar apurado, revela que enxerga muito mais que outras pessoas, mas que em alguns momentos relaxa e passa por desatento, “Fui casado por sete anos e nunca investiguei minha esposa, mas no trabalho é diferente, eu desconfio de todo mundo, até que me provem o contrário. Não sei se vocês são Jornalistas mesmo, vocês podem ser espiões que vieram ver como eu trabalho!”.

4 comentários:

  1. Gostei dessa relativa ficionalização da vida do detetive, e o texto está bastante bem-escrito. É impossível não ficar curioso para saber o que diz um texto que traz "tesão" como primeira palavra. Uma sacada e tanto...!
    E acho que o blog continua ganhando por sair do óbvio.
    Parabéns!

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  2. Já disse e reitero que esse foi o melhor post até agora!
    Gosto do estilo narrativo e o desencadeamento de idéias com estrutura ficcional.
    Se fosse você, investiria mais nesse artifício.

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  3. Ótimo personagem e texto bem escrito. Acho que vcs deviam ter explorado mais a questão da insatisfação dele com a profissão inicial (projetista). Por que mudou? Não é este o tema do blog? Ou então, podiam ter pedido para ele dar dicas a quem sonha ser detetive. Tam´bém poderia render.

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  4. Achei interessante a sugestão do Mauricio.

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