sexta-feira, 26 de junho de 2009

Medidas

Quando sabemos que estamos muito tempo no ócio, quando na verdade deveriamos estar trabalhando?

Por vezes o "saco cheio" é o maior indicador de que o ócio é a melhor escolha para aquele dia. Mas muitas vezes há também a falta do que fazer. "Quem não tem o que fazer, inventa", já dizia minha velha avó. Mas nem sempre há o que se inventar, ainda mais numa sexta-feira em que se descobre que o próximo pagamento só virá na terça e incompleto.

E ter internet ao alcance o tempo todo não ajuda, eu chamaria a internet de "cabeça vazia". E cabeça vazia é "casa do cão", diria de bate e pronto minha já citada vozinha. Pra quem, como eu, não consegue fugir do circuito Uol, Globo, Terra, Ig... (permeados por outros sites e blogs de gosto pessoal), indico um blog interessante para matar o tempo, é só clicar no nome: La Dolce Vita. É um blog sobre a cultura pop, bem humorado e cheio de coisas que fazem brilhar os olhos de saudade da infância. Um achado.

Outra boa pedida é criar um blog, assim, quando não tiver muito o que fazer pode-se dedicar a escrever, praticar é sempre bom. Ah, o ócio de novo.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Quando não dá mais!


(Foto: frame de "Mulheres à beira de um ataque de nervos, P. Almodóvar)

Planilhas, metas, cotas, emails, reuniões, eventos, clientes, prazos, autopromoção, chefe, competição, desafios, superação, crise global, redução de custos, planejamento da carreia, viagens, transito, MBA, filhos, super mercado, marido, sogra, ginecologista, dermatologista, empregada, dentista das crianças, jantar de aniversário de casamento, maquina de lavar quebrada. Cansou?

Gabriela* 35, gerente de vendas, casada há oito anos, mãe de gêmeos de seis anos cansou. Aliás, estressou completamente. “Já havia um tempo que eu estava me sentindo esgotada, estressada, mas não podia parar, isso parecia desistir e a sensação de fracasso eminente me deixava frustrada, fui ao limite e não suportei”.

Hoje, nove dos 12kg perdidos já foram recuperados, alguns dos remédios eliminados e o assunto já é abordado sem lágrimas. Um ano atrás após voltar de um almoço conturbado com clientes Gabriela entrou em sua sala, abriu a agenda para verificar as tarefas da tarde, tinha que passar no mercado, ir ao dermatologista, ligar para o conserto da maquina de lavar e jantar com o marido. “Já estava esgotada por conta do almoço que foi tenso, verifiquei uma agenda lotada e para explodir de vez meu chefe ligou no meu ramal e gritou comigo, não suportei, tive um surto, perdi a razão completamente, joguei tudo no chão, sai pelo corredor me batendo nas paredes, chorando, gritando não dá mais!”

Como não lembrar das mulheres histéricas dos filmes de Pedro Almodóvar? Levada ao hospital Gabriela teve diagnosticado um estado de estresse avançado e ficaria ao menos três dias em observação sob o efeito de calmantes. “Não tive condições de pensar sobre o que estava acontecendo naqueles dias, só depois quando sai do hospital e fui levada para uma fazenda de amigos foi que me dei conta do que estava acontecendo. Fiquei lá por duas semanas. Minha irmã veio do Rio para cuidar das crianças, meu marido pegou licença no trabalho e uma babá foi contratada. De um dia para o outro toda a minha vida estava de cabeça para baixo”.

Gabriela prefere não dizer o nome da empresa onde trabalha, mas revela: “Só tive coragem de perguntar ao meu marido como se resolveria as questões do trabalho três semanas depois do ataque, antes disso ninguém me falou nada. Foi quando descobri que não seria demitida quando voltasse, que meu marido estava cuidando dos documentos por procuração, que a empresa tinha colocado ao meu dispor um psicólogo, que tinha ganhado uma viagem para onde eu quisesse, que minha sala seria reformada e que eu poderia fazer um bom acordo caso desejasse não trabalhar mais lá”.

Não trabalhar em nenhum outro lugar no próximo ano foi a escolha de Gabriela. Um bom acordo foi feito, e a viagem prometida mantida. “Fui me recuperando, restabeleci minha rotina na medida do possível. Não trabalhar mais ao menos naquele momento era algo muito certo. Queria mais tempo para mim e as crianças, meu marido e minha casa. Fui fazer pintura, fotografia e teatro. Passei a pedalar também e as vezes faço algum trabalho voluntário. Conheci pessoas maravilhosas fora do meu circulo de trabalho, bem diferentes, hoje me sinto outra mulher, fui ao fundo do posso, foi uma grande lição. As vezes é preciso saber parar, recomeçar antes que tudo desabe”.

Gabriela recebeu alta médica recentemente, já não toma mais remédios, se sente preparada para voltar ao mercado, antes, porém vai fazer a viagem prometida, “Eu e meu marido vamos fazer todo o sul da França, sul da Itália e ilhas gregas, embarcamos em poucos dias, quando voltar serei definitivamente uma outra mulher”.

*A entrevistada exigiu anonimato, Gabriela é um nome fictício.

Operária

(Guga Melgar - Divulgação)

Com ingressos esgotados para toda a temporada antes mesmo da estréia, a atriz Fernanda Montenegro, 79 apresenta à São Paulo Simone de Beauvoir no espetáculo “Viver Sem Tempos Mortos”. (direção: Felipe Hirsch, Sesc Consolação até 28/06).

A atriz que comemora 60 anos de carreira incorpora a filósofa e escritora parisiense, ícone do feminismo e parceira de outro célebre filósofo, o existencialista Jean – Paul Sartre.

Com uma camisa social branca e uma calça preta, a atriz senta-se numa cadeira igualmente preta, e permanece lá durante toda a apresentação sob um persistente foco de luz, e assim, reascende o debate em torno do movimento feminista e a condição da mulher hoje.

À imprensa paulistana quando questionada sobre as mulheres no poder Fernanda Montenegro declarou: “É interessante não quando a mulher vem para o poder no velho esquema, de substituir o homem no seu temperamento de agir. A gente está esperando que as mulheres que chegarem ao poder tenham pelo menos o sentimento do feminino à frente de qualquer outra coisa, e não que sejam imitações acentuadas, mais contundentes do homem.”

Para comemorar os 60 anos daquela que é considerada a maior obra de Simone de Beauvoir e referência capital do feminismo a editora Nova Fronteira prepara a reedição de “O Segundo Sexo” (tradução de Sérgio Milliet, R$ 109,90, 936 págs.).

Muito se fala hoje em pós-feminismo, em conquistas femininas consolidadas, espaços sociais e profissionais ganhos. A questão é, não fosse a obra monumental de Beauvoir que influenciou toda uma geração e repensou por completo a condição feminina hoje não se falaria me em super executivas, ministras, mulheres na presidência.

Para quem procura compreender a super mulher atual, fica aqui o exemplo de Fernanda Montenegro que encara um monólogo de 60 minutos aos 79 anos com vitalidade de uma jovem de 20, e o pensamento atualíssimo daquela que viveu plenamente o sentido da palavra feminino.

Sair do armário?













(Foto: Fernando Barbosa / Hoje em dia / AE)


Junho é mês de festa junina, tempo de vestir chitas e remendos coloridos, brincar de ciranda, pular a fogueira, comer guloseimas nas quermesses, assistir ao casamento dos noivos caipiras e beijar a moça bonita na ‘barraca do beijo’. Para muitos também é tempo de beijar sem medo, em junho também acontece a já tradicional Parada Gay de São Paulo, a maior do mundo.

Ao menos nesta época do ano, ao menos na região da Av. Paulista é possível observar casais gays circulando sem medo de sofrer ações preconceituosas ou violentas. A festa agita a cidade, trás muito dinheiro ao comércio, inclusive o de luxo, lota os hotéis, triplica o faturamento de bares, boates e restaurantes. Um clima de alegria, respeito e tolerância transforma aquela região da cidade.

Em 2004 o governo federal implementou o programa “Brasil sem Homofobia”. Recentemente a Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República lançou o Plano Nacional de Promoção da Cidadania e Direitos Humanos de LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais). ONGs há anos lutam por direitos e respeito para essa parcela da população que não é tão minoria assim.

Mas nem tudo são cores. Por baixo da gigantesca bandeira do arco-íris há muito preconceito para ser enfrentado. O ambiente de trabalho é o local, infelizmente onde esse preconceito se revela mais cruel. Quem nunca ouviu piadinhas ou especulações sobre a orientação sexual de um colega de trabalho que atire primeira pedra.

É cada vez maior a freqüência com que se lê noticias sobre a implantação de programas de ação afirmativa em defesa dos homossexuais em empresas. A justiça trabalhista está cada vez mais atenta ao assunto, a mídia tem procurado tratar o tema com a mínima seriedade exigida.

Pensando sobre o assunto “Incomodo Profissional” lançou as enquetes:

"As empresas estão trabalhando para coibir e punir a homofobia no ambiente de trabalho?"

"Você já presenciou manifestação homofóbica no trabalho?"

"Assumir-se gay (“Sair do Armário”) pode acabar com a carreira profissional?"

Participe e responda nossas perguntas!

Plantão Médico

“Posso falar com você, mas logo terei que desligar já está quase na hora de aplicar uma injeção numa vizinha”. É assim que Ivonete Silvina, 59 inicia a conversa. Bem humorada completa: “Você terá que ser rápida nas anotações porque eu falo muito” Gargalhada.

Dona Ivone ou Net como é conhecida, aposentada por invalidez (por conta da osteoporose), catequista voluntária aos domingos, mãe e esposa em tempo integral, enfermeira 24h. “Comecei a trabalhar com 9 anos de idade, como auxiliar de parteira no interior de Pernambuco. Fiz muita coisa na vida, mas a enfermagem é a minha grande paixão, adoro acompanhar a recuperação de um paciente”.

Enérgica, sempre com uma ocupação Dona Ivone é conhecida como a Enfermeira Voluntária Oficial do Jardim Santa Lúcia, periferia de São Paulo. “Aqui todo mundo me conhece, sabe que eu gosto de cuidar das pessoas e faço isso com muito amor, a campanhinha e o telefone tocam o dia inteiro, já fiz até curativo em ferimento de bandido, pra mim não tem diferença é um filho de Deus como qualquer outro”.

Quando se casou em 1979, dona Ivone trabalhava como enfermeira nos hospitais Nove de Julho e Santa Paula em São Paulo, foi quando teve que fazer uma difícil escolha: “Fui convidada por um doutor muito importante do hospital (prefere não revelar o nome) para trabalhar com ele nos E.U.A, iria estudar, aprender outra língua, ter uma carreira, mas tinha me casado recentemente, também tive medo de deixar minha mãe aqui sozinha então recusei o convite. Quando veio a gravidez do primeiro filho em 1980 pedi demissão e nunca mais entrei num centro cirúrgico”.

Trinta anos depois, quando a carreira e o trabalho são apontados como prioridade absoluta pela maioria da população mundial uma escolha como essa é raríssima, para alguns pode parecer até absurda. Para uma feminista então, uma verdadeira agressão à mulher. Para dona Ivone foi só uma escolha. “Naquele tempo não se tinha essa liberdade toda, essa ideia de mulher independente, até tinha, mas isso era coisa para as letradas, nós mulheres pobres éramos educadas para ser esposa e mãe. Lembra da Malu Mulher? A Regina Duarte até apanhou na rua porque fazia uma mulher desquitada na TV, era um escândalo”.

Arrependimento? “não! tenho um marido que sempre me respeitou e meus três filhos são honestos, todos trabalhadores e estão aí na luta buscando o melhor. Vivo também por eles, mas divido meu tempo com os irmãos. Porque somos todos humanos não é? Por isso me dedico tanto quando cuido dos meus vizinhos do bairro, As vezes me chamam no portão para ajudar alguém, quando estou sentido muito dor nos braços, dor de velha sabe? (risos) penso em não ir, mas logo levanto, não se pode fugir de um dom doado por Deus, quando faço um curativo ou verifico a pressão de alguém estou reafirmando o dom que Deus me deu, não se pode fugir de um dom doado por Deus”.