quarta-feira, 10 de junho de 2009

Plantão Médico

“Posso falar com você, mas logo terei que desligar já está quase na hora de aplicar uma injeção numa vizinha”. É assim que Ivonete Silvina, 59 inicia a conversa. Bem humorada completa: “Você terá que ser rápida nas anotações porque eu falo muito” Gargalhada.

Dona Ivone ou Net como é conhecida, aposentada por invalidez (por conta da osteoporose), catequista voluntária aos domingos, mãe e esposa em tempo integral, enfermeira 24h. “Comecei a trabalhar com 9 anos de idade, como auxiliar de parteira no interior de Pernambuco. Fiz muita coisa na vida, mas a enfermagem é a minha grande paixão, adoro acompanhar a recuperação de um paciente”.

Enérgica, sempre com uma ocupação Dona Ivone é conhecida como a Enfermeira Voluntária Oficial do Jardim Santa Lúcia, periferia de São Paulo. “Aqui todo mundo me conhece, sabe que eu gosto de cuidar das pessoas e faço isso com muito amor, a campanhinha e o telefone tocam o dia inteiro, já fiz até curativo em ferimento de bandido, pra mim não tem diferença é um filho de Deus como qualquer outro”.

Quando se casou em 1979, dona Ivone trabalhava como enfermeira nos hospitais Nove de Julho e Santa Paula em São Paulo, foi quando teve que fazer uma difícil escolha: “Fui convidada por um doutor muito importante do hospital (prefere não revelar o nome) para trabalhar com ele nos E.U.A, iria estudar, aprender outra língua, ter uma carreira, mas tinha me casado recentemente, também tive medo de deixar minha mãe aqui sozinha então recusei o convite. Quando veio a gravidez do primeiro filho em 1980 pedi demissão e nunca mais entrei num centro cirúrgico”.

Trinta anos depois, quando a carreira e o trabalho são apontados como prioridade absoluta pela maioria da população mundial uma escolha como essa é raríssima, para alguns pode parecer até absurda. Para uma feminista então, uma verdadeira agressão à mulher. Para dona Ivone foi só uma escolha. “Naquele tempo não se tinha essa liberdade toda, essa ideia de mulher independente, até tinha, mas isso era coisa para as letradas, nós mulheres pobres éramos educadas para ser esposa e mãe. Lembra da Malu Mulher? A Regina Duarte até apanhou na rua porque fazia uma mulher desquitada na TV, era um escândalo”.

Arrependimento? “não! tenho um marido que sempre me respeitou e meus três filhos são honestos, todos trabalhadores e estão aí na luta buscando o melhor. Vivo também por eles, mas divido meu tempo com os irmãos. Porque somos todos humanos não é? Por isso me dedico tanto quando cuido dos meus vizinhos do bairro, As vezes me chamam no portão para ajudar alguém, quando estou sentido muito dor nos braços, dor de velha sabe? (risos) penso em não ir, mas logo levanto, não se pode fugir de um dom doado por Deus, quando faço um curativo ou verifico a pressão de alguém estou reafirmando o dom que Deus me deu, não se pode fugir de um dom doado por Deus”.

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