quarta-feira, 10 de junho de 2009

Quando não dá mais!


(Foto: frame de "Mulheres à beira de um ataque de nervos, P. Almodóvar)

Planilhas, metas, cotas, emails, reuniões, eventos, clientes, prazos, autopromoção, chefe, competição, desafios, superação, crise global, redução de custos, planejamento da carreia, viagens, transito, MBA, filhos, super mercado, marido, sogra, ginecologista, dermatologista, empregada, dentista das crianças, jantar de aniversário de casamento, maquina de lavar quebrada. Cansou?

Gabriela* 35, gerente de vendas, casada há oito anos, mãe de gêmeos de seis anos cansou. Aliás, estressou completamente. “Já havia um tempo que eu estava me sentindo esgotada, estressada, mas não podia parar, isso parecia desistir e a sensação de fracasso eminente me deixava frustrada, fui ao limite e não suportei”.

Hoje, nove dos 12kg perdidos já foram recuperados, alguns dos remédios eliminados e o assunto já é abordado sem lágrimas. Um ano atrás após voltar de um almoço conturbado com clientes Gabriela entrou em sua sala, abriu a agenda para verificar as tarefas da tarde, tinha que passar no mercado, ir ao dermatologista, ligar para o conserto da maquina de lavar e jantar com o marido. “Já estava esgotada por conta do almoço que foi tenso, verifiquei uma agenda lotada e para explodir de vez meu chefe ligou no meu ramal e gritou comigo, não suportei, tive um surto, perdi a razão completamente, joguei tudo no chão, sai pelo corredor me batendo nas paredes, chorando, gritando não dá mais!”

Como não lembrar das mulheres histéricas dos filmes de Pedro Almodóvar? Levada ao hospital Gabriela teve diagnosticado um estado de estresse avançado e ficaria ao menos três dias em observação sob o efeito de calmantes. “Não tive condições de pensar sobre o que estava acontecendo naqueles dias, só depois quando sai do hospital e fui levada para uma fazenda de amigos foi que me dei conta do que estava acontecendo. Fiquei lá por duas semanas. Minha irmã veio do Rio para cuidar das crianças, meu marido pegou licença no trabalho e uma babá foi contratada. De um dia para o outro toda a minha vida estava de cabeça para baixo”.

Gabriela prefere não dizer o nome da empresa onde trabalha, mas revela: “Só tive coragem de perguntar ao meu marido como se resolveria as questões do trabalho três semanas depois do ataque, antes disso ninguém me falou nada. Foi quando descobri que não seria demitida quando voltasse, que meu marido estava cuidando dos documentos por procuração, que a empresa tinha colocado ao meu dispor um psicólogo, que tinha ganhado uma viagem para onde eu quisesse, que minha sala seria reformada e que eu poderia fazer um bom acordo caso desejasse não trabalhar mais lá”.

Não trabalhar em nenhum outro lugar no próximo ano foi a escolha de Gabriela. Um bom acordo foi feito, e a viagem prometida mantida. “Fui me recuperando, restabeleci minha rotina na medida do possível. Não trabalhar mais ao menos naquele momento era algo muito certo. Queria mais tempo para mim e as crianças, meu marido e minha casa. Fui fazer pintura, fotografia e teatro. Passei a pedalar também e as vezes faço algum trabalho voluntário. Conheci pessoas maravilhosas fora do meu circulo de trabalho, bem diferentes, hoje me sinto outra mulher, fui ao fundo do posso, foi uma grande lição. As vezes é preciso saber parar, recomeçar antes que tudo desabe”.

Gabriela recebeu alta médica recentemente, já não toma mais remédios, se sente preparada para voltar ao mercado, antes, porém vai fazer a viagem prometida, “Eu e meu marido vamos fazer todo o sul da França, sul da Itália e ilhas gregas, embarcamos em poucos dias, quando voltar serei definitivamente uma outra mulher”.

*A entrevistada exigiu anonimato, Gabriela é um nome fictício.

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