quarta-feira, 27 de maio de 2009

Amá-lo, o trabalho

Geisa Cruvinel

Rita tem 52 anos e trabalha a 28 como auxiliar de serviços gerais, especificamente com limpeza. “Quando era mais nova queria estudar e ser outra coisa, mas não sabia o que”, conta. Mas porque não seguiu essa idéia, não foi atrás? “A gente se acostuma com tudo, com coisa boa e ruim. Mas eu também me deixei levar por outras coisas...”. Que outras coisas? “Por amor”.

15 anos atrás, quando entrou na empresa em que está até hoje, conheceu o amor. Não pelo trabalho, inicialmente, mas pelo patrão. “Ele sempre foi galinha, já entrei lá sabendo, me avisaram. Mas num teve jeito, gamei!”, diverte-se contando. Mas mesmo com as constantes brincadeiras que Rita faz sobre o comportamento “galinha” do seu amante e patrão, e sobre essa situação, ela não consegue tirar o peso que carrega em seu olhar amargurado.

“São 15 anos vivendo assim meu filho, não tem mais como mudar agora, já acostumei a ter que dividir ele. Mas só divido com a esposa!”. Como assim? Ele tem uma esposa? “Mas num tô te falando... se não eu tava casada com ele, mas eu também sou casada, então... Só por ele eu separava!”. E você não tem medo de alguém na empresa descobrir e você perder o emprego? “Por isso? Tanta gente fazendo coisa bem pior, se eu for mandada embora por isso, mandam o prédio todo! E também eu faço o serviço bem feito, dou de 10 em muita menina de 20 e pouco”. De que serviço você está falando? “Dos dois!”.

A carga horária de Rita é de seis horas diárias, mas ela entra às 7h da manhã e só sai às 15h. “Tenho muito serviço, e faço tudo tranquila, já passei da fase de ficar correndo pra lá e pra cá que nem louca, agora faço bem feito, mas no meu tempo”. Mas você fica todo dia duas horas a mais? “É que uma hora é pra eu me arrumar na saída, e a outra hora que fico a mais é pra vigiar o almoço dele. Tenho medo dele ir atrás dessas novinhas e me deixar pra trás”. Mas você não confia no seu taco? “Claro que confio, em mim, só não confio nele!”.

“As coisas viram rotina e com o tempo você nem percebe mais que elas te incomodam. Acho que você começa até a gostar delas, porque eu não trocaria de serviço hoje, nem tenho vontade de ser outra coisa como antes. Passei a amar o que eu faço, ou então acostumei, por amor”.

Só quem já amou ou ama compreenderá esse post.

Nenhum comentário:

Postar um comentário